A lubrificação dos cabos de aço
Esse artigo nasceu de uma consulta feita a mim Engenheiro Camilo Filho, e por um amigo (Fernando Colbano), que é engenheiro e hoje está trabalhando em Gana. O artigo é baseado na minha experiência profissional em trabalhos onshore/offshore e reflete a minha visão sobre o tema, não devendo ser considerado como uma verdade absoluta.
Quando se trata da lubrificação de cabos de aço, não existe uma regra geral para a frequência com que é necessária e nem para o tipo de lubrificante que deve ser usado!
O cabo de um guindaste pode ser considerado como uma máquina, e a lubrificação se faz necessária para mantê-lo movendo-se suavemente e maximizar sua vida útil. Existem duas razões principais pelas quais devemos lubrificar nossos cabos de aço de tempos em tempos. Primeiro porque protege contra a corrosão e segundo porque protege contra a fadiga. Além disso, o cabo de aço tem centenas de partes móveis, todas roçando entre si e daí a necessidade de cuidado e manutenção, de forma a manter esta “máquina” em movimento.
Internamente no cabo de aço, podemos ter até 300 arames ou mais, ou seja, 300 partes que se movem. A lubrificação elimina o atrito e, consequentemente, o dano por abrasão. Normalmente, os melhores fabricantes de cabos de aço lubrificam totalmente o cabo com graxa durante sua fabricação.
Eventualmente, ela resseca e perde parte de sua função. A lubrificação protege a graxa que foi inserida por dentro do cabo durante a fabricação. Mesmo os cabos mais modernos, que são preenchidos com plástico, requerem lubrificação para protegê-los externamente contra a corrosão.
Outro detalhe importante: um cabo de aço bem lubrificado ajuda a manter um desenrolamento suave nos guinchos que usam tambores com múltiplas camadas.
A lubrificação correta protege o cabo contra a corrosão e a fadiga, e torna o enrolar/desenrolar suave. Não há regra que determina a frequência da lubrificação
Agora, vem a parte tão aguardada, com a resposta que vale um milhão de dólares: não há uma regra geral para indicar com que frequência o cabo deve ser lubrificado. Vai depender das condições de trabalho, do ambiente e do tipo de lubrificante!
Isto torna um assunto aparentemente simples num pouco mais complicado ainda, pelo fato de que não há orientações precisas sobre quantas vezes você precisa lubrificar e o que deve usar.
Graxa e óleo, ambos têm seu lugar, benefícios e problemas. É preciso ter experiência para saber quando lubrificar e não colocar graxa/óleo em excesso e jogar dinheiro fora!
Lubrificar em excesso não é apenas um desperdício de dinheiro. O excesso de lubrificante pode ficar acumulado no cabo e sujar boa parte do equipamento e possivelmente até a carga.
O comprimento total do cabo deve ser lubrificado contra a corrosão, incluindo aquelas voltas no final do cabo que dificilmente saem do tambor – porém a área crítica a ser lubrificada, naturalmente, é aquela que se desgasta por fadiga.
O cabo deve ser lubrificado “tão frequente quanto necessário para manter sua parte externa em boas condições e evitar que a graxa inserida pelo fabricante endureça”.
A meu ver, a frequência adequada de lubrificação também é impactada não somente pelas condições de operação, mas também pelos tipos de cargas sendo içadas. Por exemplo, suponha que você está içando um painel de vidro, aqueles de acabamento externo de edifícios; a última coisa que vamos querer que aconteça é que graxa de base asfáltica ou óleo pingue ou escorra nesse vidro. Nesse caso específico, talvez seja melhor tirar qualquer excesso de óleo/graxa do cabo e trabalhar com ele até mesmo mais seco, do que, ao final do trabalho, ter de limpar toda aquela imensa área envidraçada.
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Engraxar ou não engraxar, eis a questão!
Em condições ambientais extremas, tais como trabalhos “offshore” em plataformas de petróleo, onde vento, maresia e trabalho ininterrupto de 7 x24 fazem com que os cabos necessitem proteção extra, é preferível usar graxa ao invés de óleo.
A graxa apresenta alguns detalhes que devem ser considerados:
- A graxa é vista como um risco à saúde da pele, apesar de obrigatório o uso de EPI’s.
- Pode pingar do cabo no chão e ser um risco de escorregamento.
- Pode contaminar o meio ambiente ou por exemplo, em uma fábrica de papel, se ela cai sobre a carga, danifica de forma permanente o material.
- A graxa dificulta a inspeção do cabo quanto a arames rompidos, principalmente na região dos vales.
- Quanto ao óleo, podemos considerar o seguinte:
- É mais amigável ao meio ambiente (mais limpo e menos desperdício).
- Óleo é simples e fácil de aplicar por pulverização localizada, inclusive, existem latas de sprays próprios, embora com 300 a 400ml e com preços não muito convidativos.
- Quando pulverizado, não há necessidade de contato físico com o cabo.
Claro que para trabalhos offshore por exemplo, este não é o método preferido. Mesmo com graxa, devemos nos certificar que ela não se torne ressecada, porque se ela ficar ressecada na parte externa do cabo, ela endurecerá e a maresia seguramente irá penetrar no cabo.
O cabo abaixo está com seus arames corroídos por falta de lubrificação.
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Cabo de aço corroído leva à perda de seção transversal metálica.